quinta-feira, dezembro 14, 2006

** O que resta

A sala era ampla e bem iluminada. No verão o sol entrava através de largas janelas de madeira e preenchia todo o espaço. A decoração denotava bom gosto, o candeeiro de cristal, os sofás de veludo, todos os pequenos detalhes. O silêncio de fim de tarde, a casa vazia, memórias em cada canto, nas partículas de pó que polvilhavam o ar, na estante de livros, nas molduras e nos rostos estampados. A certeza que se sente já sem dor de que a vida passou. Quando o reflexo do espelho não assusta, quando se aceita a transformação, o que resta são repetições em ritmo controlado, o instintivo movimento sem sabor a novidade. Levantou-se devagar, espreitou a rua, o ritmo frenético do trânsito, das pessoas, da vida que se apressa. Sorriu com prazer, apesar de tudo tinha sido imoderadamente feliz.

1 comentário:

Anónimo disse...

bom, na medida em que o bom é quase muito bom

RS