quinta-feira, dezembro 06, 2007

** Se te amasse ia até ao fim do mundo contigo

Se te amasse sabes que esperava, que deixava de lado estas mesquinhas razões, que não me importava, que te desculpava os agravos e te aceitava os perdões. Se te amasse sabes que não desistia, não saía disto a meio, não baixava os braços, não me despedia. Se te amasse sabes que te levantava, te sacudia a areia das calças, te levava de mão dada para outro lado mais acolhedor. Sabes que nada mudava, não te devolvia as camisolas, não te pedia os cd's, não mudava de número, nem apagava o teu, da agenda e da cabeça, não te apagava da cabeça. Se te amasse como amei, e sabes que o fiz, não estávamos aqui agora, a estas horas, nestes preparos. Não depende de mim, não escolhi assim, são coisas que acontecem, não serve de nada negar, fingir, simular, mais dia menos dia, tu pedes-me para ir contigo e eu não consigo, não porque não fosse capaz, não porque não me fosse possível, juro que se ainda te amasse, nem que fosse só um bocadinho, muito pouco servia, juro que se te amasse ia até ao fim do mundo contigo.

(Sabes que ainda te amo, claro que sim, não se deixa de amar ninguém da noite para o dia. Sabes que tenho de fazer isto na mesma, que tenho de me convencer, de te convencer, de te magoar, garantir que não me persegues. Sabes que quero mas não posso. Sabes que se não fizesse isto seria capaz, mas não posso, de ir até ao fim do mundo contigo.)
** De palhaços e outras bizarrias

Quando te vi chegar, assim sem mentir nem acrescentar ponto, que deus nos livre de exageros e de paixões ardentes. Quando te vi chegar, dizia, foi como que um murro no estômago, ou mais acima talvez, daqueles que nos deixam a desejar pela próxima golfada de ar, que abençoada, seja capaz de nos salvar à asfixia. Quando te vi chegar, julguei que fosse engano, que com certeza seria engodo da minha mais que agastada e por estes dias quase moribunda consciência do que me envolve. Quando te vi chegar, tranquilizei a minha alma com esperanças receosas, placebo antidepressivo das consciências menos ligeiras, por certo não me reconhecerias, não serias capaz de nenhuma associação entre os dois pontos desfasados da minha evolução, era mais que certo que passarias ao lado do palhaço mais que ridículo que aqui se levanta, da máscara mais que bizarra que com carinho e desvelo construi. Pelo sim pelo não, não fosse a tranquilidade que me invadiu provir inteiramente do tal placebo que tomei, não fosse como dirias, o diabo tecelãs, fiz questão de me diluir de mansinho entre as árvores do caminho, de te deixar passar ao lado, de não atrapalhar uma vez mais o teu caminho. Tenho por certo que agradeces a simpatia, que preferes assim, mesmo apesar do balão de água que por brincadeira, palavra de honra que foi sem maldade, te atirei às costas.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

** Não esqueças

Não esqueças que foram as minhas mãos que te moldaram, que pouco a pouco transformaram o barro inerte e sem graça, matéria prima da qual somos feitos, em tudo o que hoje consideras teu por direito, por mérito, por evolução natural e autónoma da tua soberba superioridade. Não esqueças os pequenos detalhes, os tortuosos e menos claros caminhos que percorreste de olhos fechados, sem outros guias excepto os meus dedos a segurar a tua mão trémula. Não esqueças todos os erros, defeitos, incoerências, todos eles teus, todos eles apagados, dissimulados, diluídos em sucessos indevidos que eu fiz acontecer. Não esqueças as duvidas que te assaltaram em cada esquina, as escolhas que te obriguei a fazer para que fosse possível caminhar mais alguns metros. Não esqueças que nunca deixei de acreditar nas distancias que conseguirias percorrer, nas alturas que conseguiras escalar, que nunca deixei de estar por perto quando precisavas de voltar a meio caminho do fim, quando precisavas de saltar a meio caminho do topo, que nunca deixei de ser o teu ponto de retorno. Não esqueças as merdas que aturei, as mentiras que aceitei, as vontades que calei, tudo o que perdi no processo inglório de te amar assim, nesta forma despojada de limitações. Não esqueças, não me faças repetir, sabes que não gosto, palavra de honra que não gosto de o fazer. Esquece apenas que fui eu que te deixei, dá-me o crédito e o mérito que me deves há anos.