segunda-feira, outubro 30, 2006

** Fotografias

As fotografias separadas por datas, a historia da vida que cresce como a cidade. As fotografias separadas por locais, rios e florestas, ondas que rebentam na areia molhada. Os sorrisos, os abraços. As fotografias que me mandaste pelo natal, beijos escritos nas costas com a tua letra de criança. As fotografias que me deste no verão, saudades escritas nas costas em tons de azul. Junto uma a uma, acrescento um pouco mais de álcool, as mentiras são dificeis de queimar...
** O dia seguinte

A tua roupa espalhada, o esquentador que não desligaste, o vazio e o silêncio são estranhos que me olham sentados no sofá. Desco as escadas devagar, o casaco no banco do lado, a chave na ignição. As memorias que me invadem entre o trânsito da manhã, o cheiro do teu cabelo acabado de lavar. O telefone em silencio, as respostas automáticas, as palavras que escrevo sem ler, o vazio e o silêncio são estranhos que me olham do outro lado da secretária. Saio sem pressa, o casaco no banco de trás, a chave na ignição, escolho uma musica que tu gostas. As memórias que me invadem entre o trânsito da tarde, O teu sorriso ao acordar. É bom poder fingir que ainda estás aqui.

sexta-feira, outubro 27, 2006

** Incoerente

Gosto de te saber longe, de te sentir ausente e indiferente, de pensar que o teu corpo não me pertence. Gosto de te olhar deste canto do quarto e imaginar que não conheco o sabor da tua pele. Gosto de acreditar que adormeces cada noite e te esqueces de mim, que quando me levanto e fecho a porta tu não acordas, não sentes a minha falta, não te interessas, não me esperas. Gosto de te querer desta forma incoerente, e de recomeçar cada noite o que não termino pela manhã.

quinta-feira, outubro 26, 2006

** Palavras

Somos o que sabemos querer descobrir, a soma de todos os pequenos elementos desordenados, incompletos, dispersos. Sabemos e ainda assim sorrimos na certeza de que a existência mais clara mais irrefutável é em si uma dúvida, um vago pressentir, uma verdade que amanhece sem se afirmar sem desenhar uma inabalável certeza de que aquilo que toco, aquilo que sinto está aqui, é real, tão real como tu que me esperas em silencio como se já estivesse a partir.
** Cópia perfeita do meu ser

Não ouso sequer pensar que te seja possível ser diferente do que planei para ti. Que tudo o que és se dissolva e se revele na desilusão da descoberta, no desfazer da razão e das certezas que acalentei sobre ti. Não és mais uma vã e ilusória fantasia sobre algo que apenas existe enquanto vontade, enquanto desejo de que todas as expectativas se revertam em sólidas verdades, Sei que és real, que a imagem que projectei de ti é tão real quanto tu que me olhas desse lado da noite.
** Feliz

As palavras correm soltas, tudo é claro e simples como deve ser. Sem entrelinhas de palavras retorcidas e dissimuladas, sem segundas intenções que espreitem disfarçadas de verdades sinceras e altruístas, disfarçadas de tantas coisas que me arrastam e me impedem de estar assim, Feliz. Feliz com F maiúsculo, supremo, incondicinal. Tenho a creteza de que nem mesmo quando esta pistola disparar e me disfizer as ilusões me vou sentir menos Feliz.