quarta-feira, junho 27, 2007

"Having tasted,... A life wasted,...
I'm never going back again..."

terça-feira, junho 19, 2007

** O Tira-nódoas

Nunca tive medo de nada, nunca tive medo de quase nada, e quando tinha, saboreava o medo como limonadas em dias quentes. Era sempre o primeiro a saltar da rocha mais alta para o rio esverdeado, com vontade de voltar a sentir a vaga de frio que percorre as costas e o tremor que assalta imprevisto o corpo ao espreitar o precipício. Tinha medo de coisas normais. Tinha medo de cair, mas andava de bicicleta como louco por ruelas e escadas. Tinha medo que os pássaros fugissem da gaiola de hamster que estava pendurada no quintal, sem roda claro está, que os bichos alados não se prestam à tarefa de fazer girar rodas de qualquer sorte, mas abria muitas vezes a grade só porque sim. Tinha medo de que me apanhassem a roubar romãs do quintal alheio mas era o primeiro a trepar os telhados. Tantas vezes pensei voltar para trás, desistir do que me propunha alcançar, esperar pela melhor altura, calar o que queria dizer, e outras tantas vezes fiz tudo isso, sem planear, porque sim, porque nunca tive medo de nada, nunca tive medo de quase nada. E no entanto, agora, quando sinto nos teus beijos o travo a despedida, quando com cuidado fechas a porta da rua, e o silêncio ocupa o teu lugar na parte da cama que usaste, quando sem avisar vais embora, não consigo deixar de ter medo, não consigo deixar de quase ter medo, que por alguma razão insondável decidas não voltar amanhã.

quarta-feira, junho 06, 2007

** Felicidade

A felicidade também cansa, e o mais certo é que desapareça... que se deixe de notar é pelo menos quase certo. A felicidade têm muito que se lhe diga, têm requintes de maldade embrulhados em papel florido, laços de tédio a atar o conjunto. Sabes bem que nunca pedi felicidade, nem isso nem nada, nunca pedi quase nada, nem sequer te pedi para ficar. Em dias de incerteza restava dizias, a certeza da felicidade, do pouco que nos faz sorrir. Não gosto de sorrir, nem de te ver no rosto espelhada a tranquila satisfação a que chamas sem pudor, felicidade. Não é por te saber incapaz de compreender o meu discurso a que chamas-te um dia embrulhado, nem sequer por te saber capaz de gerir o que de bom acontece e digerir o que de mau sempre acontece, ou pela tua capacidade entediante de procurar um lado positivo em qualquer contratempo que de súbito se adivinha. Não é por nada disso, ou talvez um pouco por tudo isso, que não peço perdão, que sem pensar muito mais sobre o assunto, prometo que não vou ficar a pensar sobre o assunto, em jeito de despedida, te espeto esta faca nas costas...