quarta-feira, dezembro 05, 2007

** Não esqueças

Não esqueças que foram as minhas mãos que te moldaram, que pouco a pouco transformaram o barro inerte e sem graça, matéria prima da qual somos feitos, em tudo o que hoje consideras teu por direito, por mérito, por evolução natural e autónoma da tua soberba superioridade. Não esqueças os pequenos detalhes, os tortuosos e menos claros caminhos que percorreste de olhos fechados, sem outros guias excepto os meus dedos a segurar a tua mão trémula. Não esqueças todos os erros, defeitos, incoerências, todos eles teus, todos eles apagados, dissimulados, diluídos em sucessos indevidos que eu fiz acontecer. Não esqueças as duvidas que te assaltaram em cada esquina, as escolhas que te obriguei a fazer para que fosse possível caminhar mais alguns metros. Não esqueças que nunca deixei de acreditar nas distancias que conseguirias percorrer, nas alturas que conseguiras escalar, que nunca deixei de estar por perto quando precisavas de voltar a meio caminho do fim, quando precisavas de saltar a meio caminho do topo, que nunca deixei de ser o teu ponto de retorno. Não esqueças as merdas que aturei, as mentiras que aceitei, as vontades que calei, tudo o que perdi no processo inglório de te amar assim, nesta forma despojada de limitações. Não esqueças, não me faças repetir, sabes que não gosto, palavra de honra que não gosto de o fazer. Esquece apenas que fui eu que te deixei, dá-me o crédito e o mérito que me deves há anos.

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