** Improvável
- (Eu não acredito em deus) Mas o acaso que te criou estava muito inspirado no dia que o fez.
Não sei bem o que fazer com este texto. Será um diálogo imaginário ou um monólogo transcrito de noites que se prolongam depois de pores do sol que não chegaram nunca? Há frases soltas que se inventam entre passos a ritmo rápido na madrugada, enquanto a memória do teu sabor me assalta desprevenido.
(É voz corrente do povo da redondeza, quando deus fez a beleza foi em ti que ele pensou) - Cantava a música em plano de fundo enquanto no primeiro plano se discutiam teorias de felicidade.
A beleza de um texto, qualquer um, até este, é que uma vez escrito, enquanto existir, a memória existe também.
- Daqui a, por exemplo, 50 anos vais lembrar os rascunhos de planos impossíveis?
- Impossíveis é um exagero, não concordas?
- Improváveis então?
- Uma coisa de cada vez.
Uma coisa de cada vez é um bom plano, sólido a roçar o infalível. Como uma decisão de que o que vier será o melhor e todos os erros são desculpas de recomeço.
Saramago dizia que na vida cabem muito mais vidas do que as que somos capazes de viver e eu tendo a concordar. O que não diz nem fala é do risco de as querer viver todas de uma vez e de todas as vidas que se eliminam a cada escolha.
Não sei bem o que fazer com este texto, mas no esboço ele era leve como um poema, como uma canção, como tu.
Será mesmo que tudo o que criamos é uma derivada de algo? Das músicas que ouvimos, os livros que lemos, as pessoas que amamos? E se assim for, serão os pensamentos que me invadem um produto das memórias quase fotográficas de noites inventadas? Mas o que fica, a vida que fica, é real, tão real como saber que te escrevi antes de te saber talvez existir.
- Como pode ser que não prestes e prestes tanto ao mesmo tempo?
- Como pode ser que palavras tão ao acaso e improváveis cheguem tão longe em tão pouco?
Não sei bem o que fazer com este texto, podia escrever durante horas.
(Tu sabes que podia escrever durante horas)
Mas as horas não simplificam o destino. Não sei bem o que fazer com este texto, mas principalmente não sei bem como o terminar.
Sei, no entanto, a sugestão que darias. E sei que é bom terminar como tudo começa, por isso, porque não pode ser de outra forma
- Uma coisa de cada vez…
sexta-feira, setembro 12, 2025
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