Segunda-Feira
Segunda-feira não é dia para aventuras nem tropelias.
É dia de subir o elevador sem pressa, apesar da hora tardia.
Abrir a porta que ficou no trinco, sorrir, porque me esperas
Cabelo despenteado, camisola larga de dormir, sem mais nada.
No peito, planetas desenhados; no olhar, o universo.
O teu beijo é o paradoxo habitual, oscila entre o conforto e o arrepio.
O resto do risoto de domingo, o resto da conversa do dia
O resto de um abraço na cama, um adormecer igual.
Uma segunda-feira banal que podia ser o resto, de uma vida.
quarta-feira, novembro 12, 2025
terça-feira, novembro 11, 2025
** Multiverso
Estou a tentar habituar-me à ideia de deixares de fazer parte do meu dia, mas confesso que é uma ideia de merda.
Ontem li que, em 1957, um físico americano propôs uma tese sobre universos paralelos. Achei auspicioso que, algures, duas versões nossas se tenham conhecido da mesma forma, mas tenham encontrado maneira de continuar na vida um do outro.
É bonita a possibilidade de que, noutro universo, passemos ainda horas em debates abstratos, com a leveza com que listamos banalidades, na esperança adolescente de que um detalhe, nos coloque em desacordo.
O que não me parece justo, é a versão do universo que me calhou: Em que tudo o que tenho são memórias e o vazio que deixaste em mim.
Sabes, nunca fui muito altruísta. Não me consola saber de mecânicas quânticas que originam a sorte alheia. O que queria mesmo era sentir a tua pele, o teu cheiro, rir contigo pela noite dentro até a barriga doer.
Só mais uma vez. Juro que era só mais uma vez.
E talvez, no processo de bifurcação de universos, eu tivesse mais sorte. Talvez, desta vez, fôssemos nós a cópia boa.
Estou a tentar habituar-me à ideia de deixares de fazer parte do meu dia, enquanto penso em teorias de multiverso e no facto de que, em todas as versões, haverá sempre, em algum momento, um fim.
Talvez, a nossa versão seja já a boa afinal. Apenas por termos existido, por termos sido perfeitos, ainda que por instantes, o nosso universo cumpriu a sua função.
Fomos, por um momento, tudo.
Talvez isso seja suficiente…
Estou a tentar habituar-me à ideia de deixares de fazer parte do meu dia, mas confesso que é uma ideia de merda.
Ontem li que, em 1957, um físico americano propôs uma tese sobre universos paralelos. Achei auspicioso que, algures, duas versões nossas se tenham conhecido da mesma forma, mas tenham encontrado maneira de continuar na vida um do outro.
É bonita a possibilidade de que, noutro universo, passemos ainda horas em debates abstratos, com a leveza com que listamos banalidades, na esperança adolescente de que um detalhe, nos coloque em desacordo.
O que não me parece justo, é a versão do universo que me calhou: Em que tudo o que tenho são memórias e o vazio que deixaste em mim.
Sabes, nunca fui muito altruísta. Não me consola saber de mecânicas quânticas que originam a sorte alheia. O que queria mesmo era sentir a tua pele, o teu cheiro, rir contigo pela noite dentro até a barriga doer.
Só mais uma vez. Juro que era só mais uma vez.
E talvez, no processo de bifurcação de universos, eu tivesse mais sorte. Talvez, desta vez, fôssemos nós a cópia boa.
Estou a tentar habituar-me à ideia de deixares de fazer parte do meu dia, enquanto penso em teorias de multiverso e no facto de que, em todas as versões, haverá sempre, em algum momento, um fim.
Talvez, a nossa versão seja já a boa afinal. Apenas por termos existido, por termos sido perfeitos, ainda que por instantes, o nosso universo cumpriu a sua função.
Fomos, por um momento, tudo.
Talvez isso seja suficiente…
sexta-feira, setembro 12, 2025
** Improvável
- (Eu não acredito em deus) Mas o acaso que te criou estava muito inspirado no dia que o fez.
Não sei o que fazer com este texto. Será um diálogo imaginário ou um monólogo transcrito de noites onde pores do sol não chegaram nunca? Há frases soltas que se inventam entre passos a ritmo rápido na madrugada, enquanto a memória do teu sabor me assalta desprevenido.
(É voz corrente do povo da redondeza, quando deus fez a beleza foi em ti que ele pensou) - Cantava a música em plano de fundo enquanto no primeiro plano se discutiam teorias de felicidade.
A beleza de um texto, qualquer um, até este, é que uma vez escrito, enquanto existir, a memória existe também.
- Daqui a, por exemplo, 50 anos vais lembrar os rascunhos de planos impossíveis?
- Impossíveis é um exagero.
- Improváveis então?
- Uma coisa de cada vez.
Uma coisa de cada vez é um bom plano, sólido a roçar o infalível. Como uma decisão de que o que vier será o melhor e todos os erros são desculpas de recomeço.
Saramago dizia que na vida cabem muito mais vidas do que as que somos capazes de viver e eu tendo a concordar. O que não diz nem fala é do risco de as querer viver todas de uma vez e de todas as vidas que se eliminam a cada escolha.
Não sei o que fazer com este texto, mas no esboço ele era leve como um poema, como uma canção, como tu.
Será mesmo que tudo o que criamos é uma derivada de algo? Das músicas que ouvimos, os livros que lemos, as pessoas que amamos? E se assim for, serão os pensamentos que me invadem um produto das memórias quase fotográficas de noites inventadas? O que fica, a vida que fica, é real, tão real como saber que te escrevi antes de te imaginar talvez existir.
- Como pode ser que não prestes e prestes tanto ao mesmo tempo?
- Como pode ser que palavras tão ao acaso cheguem tão longe em tão pouco?
Não sei o que fazer com este texto. Podia escrever durante horas.
(Tu sabes que podia escrever durante horas)
Mas as horas não simplificam o destino. Não sei o que fazer com este texto, mas principalmente não sei como o terminar.
Sei, no entanto, a sugestão que darias. E sei que é bom terminar como tudo começa, por isso, porque não pode ser de outra forma
- Uma coisa de cada vez…
- (Eu não acredito em deus) Mas o acaso que te criou estava muito inspirado no dia que o fez.
Não sei o que fazer com este texto. Será um diálogo imaginário ou um monólogo transcrito de noites onde pores do sol não chegaram nunca? Há frases soltas que se inventam entre passos a ritmo rápido na madrugada, enquanto a memória do teu sabor me assalta desprevenido.
(É voz corrente do povo da redondeza, quando deus fez a beleza foi em ti que ele pensou) - Cantava a música em plano de fundo enquanto no primeiro plano se discutiam teorias de felicidade.
A beleza de um texto, qualquer um, até este, é que uma vez escrito, enquanto existir, a memória existe também.
- Daqui a, por exemplo, 50 anos vais lembrar os rascunhos de planos impossíveis?
- Impossíveis é um exagero.
- Improváveis então?
- Uma coisa de cada vez.
Uma coisa de cada vez é um bom plano, sólido a roçar o infalível. Como uma decisão de que o que vier será o melhor e todos os erros são desculpas de recomeço.
Saramago dizia que na vida cabem muito mais vidas do que as que somos capazes de viver e eu tendo a concordar. O que não diz nem fala é do risco de as querer viver todas de uma vez e de todas as vidas que se eliminam a cada escolha.
Não sei o que fazer com este texto, mas no esboço ele era leve como um poema, como uma canção, como tu.
Será mesmo que tudo o que criamos é uma derivada de algo? Das músicas que ouvimos, os livros que lemos, as pessoas que amamos? E se assim for, serão os pensamentos que me invadem um produto das memórias quase fotográficas de noites inventadas? O que fica, a vida que fica, é real, tão real como saber que te escrevi antes de te imaginar talvez existir.
- Como pode ser que não prestes e prestes tanto ao mesmo tempo?
- Como pode ser que palavras tão ao acaso cheguem tão longe em tão pouco?
Não sei o que fazer com este texto. Podia escrever durante horas.
(Tu sabes que podia escrever durante horas)
Mas as horas não simplificam o destino. Não sei o que fazer com este texto, mas principalmente não sei como o terminar.
Sei, no entanto, a sugestão que darias. E sei que é bom terminar como tudo começa, por isso, porque não pode ser de outra forma
- Uma coisa de cada vez…
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