quarta-feira, janeiro 17, 2007

** Luísa

Foi então que percebi, foi só naquela tarde que senti que tinhas partido, a caneta suspensa sobre a letra, a palavra a meio caminho do fim, o teu nome por terminar, Luísa. E tudo o que calei rebentou naquele momento, numa fracção de segundo, num gesto suspenso, Luísa. Claro que lembro o inferno que foi a tua despedida, a confusão que criaste com a decisão de partir quase sem avisar, de alguma forma suprimi tudo, observei de longe, espectador distante e sereno do teu adeus. E dias depois, semanas até, continuei sentado na plateia do teatro que foi o teu mundo, em silêncio á espera que de alguma forma tudo não passa-se de um intervalo prolongado. Até aquele momento, e a ilusão desfez-se nos riscos do teu nome, Luísa. Só então senti a ausência, tão real, tão cruel quanto foi o teu fim. Cartas que escrevo em delírio, em demente vontade, em egoísta certeza de que enquanto existires em palavras não vais poder partir. A morte é um inesperado sinal de pontuação no texto que sempre escrevi. fecho os olhos, recordo mais uma vez, porque não te vou deixar morrer, porque nunca te vou deixar morrer em mim, Luísa.

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